O caminho da nostalgia
O fenômeno da nostalgia não é uma novidade. Muita gente já se dedicou a ele. Mircea Eliade, por exemplo, construiu sua carreira tentando racionalizar e historicizar (com formidável sucesso) um sentimento doloroso, pontadas veríssimas que sentia no peito, vindas do desejo de retornar a um tempo mais seguro e feliz. Por causa disso, por causa dessa impressão de que o sabor do passado é doce com um final amargo —já que o passado tem um fim—, descreviam os antigos, como Hesíodo que a Era de Ouro, a mais feliz das idades humanas, era regida por Saturno. A felicidade já apontava a tristeza do porvir.
Com o passar do século XX, o desejo dum retorno a um passado histórico —ou meta-histórico, como seria o caso de voltarmos à Era de Ouro— foi efetivamente destruído. O romantismo e suas extensões foram definitivamente sepultados pelas duas Grandes Guerras. A Primeira sepultou a organização político-social tradicional da humanidade (a monarquia em qualquer uma das suas formulações) enquanto a Segunda sugeriu o seguinte: Se todas as regras e normas de vivência coletiva não conseguiram impedir que Hitler acontecesse, talvez tendo até colaborado para que ele surgisse, então de que serviram? A resposta obtida logo nos anos 1950 foi: Para nada serviram; precisamos de outras. A justificativa é o que vivemos hoje em nossa prisão no paradigma da contracultura.