Carta 060: O fim do mundo moderno (II)
Falamos na última Carta da Tradição que o repositório de mentiras do mundo moderno, ao nosso ver, está perto de chegar ao fim. O queríamos dizer é que a mentira essencial, aquilo que Platão chamava de gennaios pseudos, da modernidade está se esgotando.
É claro que não há uma, mas várias mentiras essenciais que alimentam o mito da modernidade. A democracia, a economia de mercado, a liberdade de expressão, tudo isso é parte da mentira essencial. Só que a grande mentira da modernidade é algo, é uma idéia que precede todas as outras; todas essas idéias que mencionei, além de idéias mais diversas e mais sinistras do que essas aí, como a noção de que todos os homens são iguais, vêm de uma mais básica e simples. É a idéia que o mundo é regido por leis sintetizáveis.
Quando falo em simplicidade, estou usando essa palavra no seu sentido teológico. Aquele sentido em que Deus é simples. Ou seja, Deus não pode ser divido noutras coisas. Ele é único. Ou melhor, trino e uno; indivisível em Sua trindade. Dessa simplicidade predica-se toda a complexidade da criação.
A idéia da sintetização do mundo é a idéia básica, além de ser a idéia mais simples, de todas as idéias que abarcam o projeto moderno. Ela é simples, irredutível e indivisível, assim como a noção teológica de Deus é simples. Assim como não pode se dividir Deus noutras coisas pois Seu ser é auto-suficiente, a sintetização do mundo no projeto moderno é auto-explicativa: tudo enquanto existe observa leis básicas das quais os fenômenos manifestados não são senão expoentes ou derivações.