Já devo ter mencionado nestas Cartas da Tradição que uma das principais características do «projeto moderno» é a tristeza. Em conseqüência dessa característica, há uma outra que causa mais impactos por se tratar dum modo de comportamento e de expectativa da vida. Trata-se da humilhação.
Essa é uma observação que não faço só. Um dos intérpretes mais brilhantes do Brasil, e mentor do mais brilhante intérprete do Brasil, foi quem primeiro o disse. Falo de Paulo Prado, mentor de Gilberto Freyre:
Ao lado da taciturnidade indiferente ou submissa do Brasileiro, o Inglês é alegre, apesar da falta de vivacidade e da aparência [...]. O nosso próprio antepassado de Portugal, cantador de fados saudosos, enamorado e positivo, é um ser alegre quando comparado com o descendente tropical, vítima da doença, da pálida indiferença e do vício da cachaça. A poesia popular, as lendas, a música, as danças, revelam a obsessão melancólica que só desaparece com a preocupação amorosa ou lasciva. [...] Desde os tempos primeiros, observa Capistrano, a família brasileira teve como sustentáculo urna tripeça imutável: pai soturno, mulher submissa, filhos aterrados. [...] O português transplantado só pensava na pátria d’além-mar: o Brasil era um degredo ou um purgatório. (Paulo Prado, Retrato do Brasil: Ensaio sobre a Tristeza Brasileira, 2.ª ed., 1982, pp. 94, 95)
Prado também admite que essa tristeza é um desenvolvimento do projeto moderno: «Do enfraquecimento da energia física, da ausência ou diminuição da atividade mental, um dos resultados característicos nos homens e nas coletividades é, sem dúvida, o desenvolvimento da propensão melancólica.» (Ibid., p. 92)
Posto que estas Cartas não são de interpretação do Brasil, mas de considerações sobre os efeitos da modernidade em todos nós, fixo essas citações apenas como modo de demonstrar que não estou ficando louco. Até porque meu objetivo é falar hoje de algo que pode ofender as sensibilidades dos leitores mais pudicos destas linhas. Quero falar de hábitos sexuais.