Recentemente, no Brasil, a questão da roupa, ligada a um certo grau de adesão religiosa, se tornou importante. Para certos espíritos pretensamente tradicionais (cuja pretensão é ser mais «fiel à religião» do que os outros), vestir o terno, gravata e saia é em si mesmo uma forma de realização espiritual. Aqueles que defendem essa tese deviam refletir mais e se educar nessa questão, pois esse mesmo trajo — e o terno e a gravata, em especial — fazem parte e têm íntima relação com a derrocada religiosa que o Ocidente experimenta nos últimos seiscentos anos, apesar de seus impactos mais dolorosos e desnorteadores se fazerem sentir apenas agora.
Para ajudar nessa matéria, achei por bem traduzir este ensaio do comparatista religioso greco-inglês Marco Pallis (1895–1989). Originalmente publicado sob o título «Do the Clothes Make the Man?» este é um dos textos mais esclarecedores sobre a questão. O texto fala primordialmente de estilo, e não de moda, e ajuda a entender a responsabilidade que devemos ter na hora de escolhermos a roupa que nos cobre, já que até isso é um ato de realização espiritual. Como Pallis demonstra, não precisamos apenas aderir a uma tradição: é preciso ter bom gosto, e o bom gosto está profundamente relacionado ao bom-senso e ao discernimento. E isso inclui certas exigências e adaptações ao contexto em que vivemos.
Minhas notas estão marcadas com o sinal «— Trad.»; as dos organizadores onde o texto foi publicado estão com o sinal «— Orgs.»; as notas de Pallis não têm sinal.
— Victor Bruno
O hábito faz o monge?
O significado da vestimenta humana
Por Marco Pallis
Originalmente publicado como «Do the Clothes Make the Man? The Significance of Human Attire», cap. XXI de Martin Lings e Clinton Minnaar, orgs., The Underlying Religion: An Introduction to the Perennial Philosophy, Bloomington, World Wisdom, 2007.